sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

História Antiga - 6ª parte




                               Os Dez Mil Navios



          Assim que as guerras ghiscaris acabaram, os Senhores de  Dragões de Valíria voltaram os olhos para o oeste levando conflito aos povos de Roine. O mais poderoso rio do mundo e seus muitos afluentes se espalhavam por grande parte de Essos ocidental. Ao longo de suas margens, ergueram-se uma civilização e uma cultura tão célebres e antigas quanto ao Antigo Império de Ghis. Essa civilização chamava o rio de Mãe Roine, deviso à sua fertilidade.
          Pescadores, comerciantes, professores, estudiosos, artesãos em madeira, pedra e metal, os Roinares ergueram suas vilas e cidades elegantes, da cabeceira à foz do Rio Roine. Havia Ghoyan Drohe nas Colinas de Veludo, com seus bosques e cachoeiras; Ny Sar, a cidade das fontes, animada com músicas; Ar Noy, no Qhoyne, com seus salões de mármores verde; a clara Sar Mell das flores; Sarhory, cingida pelo mar, com seus canais e jardins de água salgada; e Chroyane, a maior de todas, a Cidade do Festival , com seus grandes Palácios do Amor.
          Havia uma magia de água muito diferente das feitiçarias de Valíria, tecida com sangue e fogo.
          Cada cidade tinha seu próprio príncipe ou princesa, pois entre esse povo do rio, homens e mulheres eram considerados iguais.
          O guerreiro roinar, com sua armadura de escamas prateadas, elmo no formato de peixe, lança alta e escudo de tartaruga, era respeitado, honrado e temido por todos aqueles que o encaravam em batalha. Apesar de serem considerados um povo pacífico de modo geral, eram formidáveis quando despertados para a ira, tanto os homens como as mulheres. 
          O rio era o lar deles, sua mãe, seu deus, e poucos desejavam viver além dele. Mas não tiveram sorte quando aceitaram a companhia de aventureiros, exilados e comerciantes da Cidade Franca de Valíria, que começaram a se expandir para além das Terras do Longo Verão, após a queda do Antigo Império de Ghis. Logo, os roinares começaram a se lamentar por terem permitido a invasão dessas comunidades. Entraram em conflito e em seguida em guerras curtas. Disputas entre as cidades rivais tornaram-se cada vez mais comuns e rancorosas, e sangrentas.
          Sar Mell e Volon Thaerys se enfrentaram, devido à morte de uma tartaruga antiga, enorme, considerada animal sagrado. Em seguida veio A Guerra dos Três Príncipes, a Segunda Guerra da Tartaruga, a Guerra dos Pescadores, a Guerra do Sal, a Terceira Guerra da Tartaruga, a Guerra no Lago Adago, a Guerra das Especiarias e muito mais. Nesses conflitos, os valirianos levaram a melhor.
          Então, os roinares tiveram que se juntar - "Seremos todos escravos a menos  que nos unamos para acabar com tal ameaça!" - declarou o maior  dos príncipes roinares, Garin de Chroyane.
          Apenas a princesa Nymeria de Ny Sar foi contra, mas foi voto vencido e  juntou-se aos demais príncipes roinares, formando a grande aliança.



Princesa Nymeria liderando os dez mil navios



          O maior exército que Essos jamais vira logo se reuniu em Chroyane, sob o comando do Príncipe Garin, que declarou que não precisavam temer os dragões de Valíria enquanto o exército permanecesse às margens da Mãe Roine.
          Garin dividiu seu exército em três partes: uma marcharia pela margem leste do rio Roine, outra seguiria pelo oeste, enquanto uma imensa frota de galés de guerra seguiria no mesmo ritmo pelas águas, mantendo o rio livre de navios inimigos. De Chroyane, o Príncipe Garin liderou suas forças reunidas rio abaixo, destruindo cada aldeia, cidade e posto avançado no caminho e esmagando todo o inimigo.
          Em muitos lugares, Garin venceu os valirianos, mas em Volantis, os volantinos recuaram para trás das Muralhas Negras, e apelaram à Cidade Franca para que os ajudasse.
          E os dragões vieram. Não três, como o Príncipe Garin encarara em Volon Therys, mas trezentos ou mais, se é possível confiar nos contos que chegaram até nós.
          A destruição foi ardente e quase que total. Garin, o Grande foi capturado vivo e obrigado a assistir seu povo sofrer. Quem não morria pelo fogo doa dragões, era executado pelas espadas dos volantinos e valirianos. Era muito sangue!
          Eles avançaram até Chroyane, cidade do Príncipe Garin, que estava preso em uma gaiola dourada, sob o comando dos Senhores dos Dragões. Mas, dizem que o Príncipe Garin lançou uma maldição sobre seus rivais conquistadores, pedindo à Mãe Roine que vingasse seus filhos roinares.
          E então, naquela mesma noite, o Roine teve uma súbita inundação fora de época, de uma força incontrolável,  maior do que conhecida em memória viva. Um nevoeiro grosso desceu sobre a cidade, cheio de substâncias malignas, causando a morte dos valirianos, conhecida como "escamagris".
          Na parte mais alta  do Royne, em Ny Sar, a princesa Nymeria recebeu a notícia da terrível derrota de Garin  e da escravidão de seu povo de Chroyane e Sar Mell. Percebeu que teria o mesmo destino. Assim, reuniu cada navio que sobrava sobre o Roine,  grande ou pequeno, e os encheu de mulheres e crianças, homens idosos que não foram à guerra. Rio abaixo, Nymeria liderou sua frota, que dizem que era de dez mil navios, passando por cidades fumegantes e campos de cadáveres queimados. Para evitar Volantis e suas tropas, 
ela escolheu os canais mais antigos, emergindo no Mar de Verão, onde antigamente ficava Sarhoy.
          Mais de uma centena de navios naufragou e afundou na primeira tempestade que encontraram.
          Conseguiu chegar com a frota remanescente na Ilha dos Sapos, onde não permaneceu devido às exigências e condições dos corsários que por lá estavam. E mais uma vez levou sua frota para o mar, esperando encontrar refúgio nas selvas úmidas de Sothoros. Alguns se estabeleceram na Ponta Basilisco, outros do lado das águar verdes brilhantes de Zamoyos, entre areida  movediças, crocodilos e árvores meio afundadas e apodrecidas, A princesa Nymeria permaneceu com os navios em Zammetar, uma colônia ghiscari abandonada há mil anos.
          Ficou por um tempo e depois ergueu as velas de sua frota já bastante desgastada e menor, e navegou para o oeste, seguindo para Westeros. Com os navios em piores condições, chegou em Dorne, perto da foz  do rio Sangueverde, não muito distante das antigas muralhas de pedra e areia de Lançassolar, sede da Casa Martell.
          Dorne, nessa época era uma terra pobre, cujos habitantes não gostaram muito da presença dos roinares, mas Mors Martell, Senhor de Lançassolar, viu nos recém chegados, uma oportunidade, mas dizem alguns, que ele se apaixonou por Nymeria, a feroz e bela rainha guerreira que liderava seu povo mundo afora para mantê-los vivos.                Quando Mors Martell tomou Nymeria como esposa, centenas de seus cavaleiroa, escudeiros e vassalos fizeram o mesmo com as mulheres roinares, muitas viúvas, que embarcaram nos navios de Nymeria.
         Dessa maneira, os dois povos se uniram pelo sangue. Para celebrar essa união e ter certeza que seu povo não a abandonaria, pelo menos pelas águas, Nymeria queimou seus navios que restaram.  Além disso, Nymeria nomeou Mors Martell Príncipe de Dorne, ao estilo roinar, assegurando seu domínio sobre "as areias vermelhas e brancas, e todas as terras e rios das montanhas até o grande mar de sal".
         Declarar era mais fácil que conseguir, no entanto. 
         Anos de guerra se seguiram, e os Martell e seus parceiros roinares encontravam e subjugavam um rei menor após o outro. Restou o seu maior inimigo: Yorick Yronwood, o Sanguerral, Quinto do seu nome, Senhor de Peloferro, Protetor do Caminho de Pedra, Cavaleiro dos Poços, Rei da Marca Vermelha, Rei do Cinturão Verde e rei dos Dorneses. e seus vassalos.
         Por nove anos, Mors Martell e seus aliados lutaram contra Yronwood. Quando Mors Martell caiu pela espada de Yorick Yronwood, na Terceira Batalha do Caminho do Espinhaço, a Princesa Nymeria assumiu sozinha  o comando dos exércitos.
         E foi pra ela, depois de dois anos de batalha, que Yronwood dobrou os joelhos; e foi ela que governou depois disso, em Lançassolar.
         Mesmo casando por mais duas vezes, Nymeria continuara a ser governante inquestionável de Dorne, por quase vinte e sete anos, com os maridos servindo apenas como conselheiros e consortes.
         Quando Nymeria morreu, foi a mais velha de suas quatro filhas com Mors Martell quem a sucedeu, mesmo tendo um filho com Davos Dayne, seu terceiro marido.

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